Doctor Who – The Snowmen (Especial de Natal)


Admito minha relutância em assistir ao especial de Natal de Doctor Who. Sempre quando há troca de companion eu fico de frescura para assistir à série e, dessa vez, não foi muito diferente. Depois de árduas semanas sem a presença do Doutor, com aquela saudade esmagadora, percebi que ainda estou de luto pelos Pond e fiquei feliz por saber que não estava sozinha, perdida nesse sentimento triste, pois o nosso querido alienígena de dois corações também não voltou para a TARDIS nos melhores dos ânimos depois de perder Amy e Rory.

O 11º Doutor estava resmungão, em eterno clima de luto e abdicou da sua carreira de salvador do universo. Não há como discordar que a perda dos Pond realmente seria um baque forte e que se manteria na mente do Doutor por um longo tempo. Para fugir da dor, ele encontrou pequenos refúgios, como se esconder na velha e linda TARDIS, com bons drinques e bons livros para não pensar no que aconteceu em Nova York. Sem contar que, voltar à profissão, é o mesmo que reviver o episódio que resultou na despedida da sua tão amada e adorada gangue.

doctor who - the snowmen1Achei muito importante terem mostrado esse lado tempestuoso do Doutor com relação aos Pond. Digo isso porque Amy e Rory cresceram ao lado do 11º Senhor do Tempo e não dá para simplesmente desligar o botão da existência deles e anular o elo de amizade e honestidade que se formou entre o trio. Afinal, Amy foi o primeiro rosto que a nova versão do Doutor viu e não é algo assim tão simples de se esquecer. Ver a interação dele com Clara, a nova companion, me deixou desconfortável, pois ainda não consegui digerir o dramático The Angels Take Manhattan. Sinto muito, souffle girl.

doctor who - the snowmen2Por ser muito emotiva, assisti ao episódio de Natal bem triste. Amy e Rory não estavam lá. Se eu estivesse no lugar do Doutor também optaria em sair de circulação por um bom tempo. Não adianta pagar de durão quando os sentimentos estão à flor da pele e seria uma falta de respeito colocar o personagem na boa forma depois do que aconteceu. Sem contar que o Senhor do Tempo tinha prometido trazer os Pond vivos para Brian, o que não deu certo, e se refletiu na pequena sensação de incapacidade dele em salvar vidas. Como ele mesmo pontou, não adianta fazer esforços, pois o universo simplesmente não se importa.

doctor who - the snowmen3

Enquanto ele tirava férias, uma equipe de primeira assumiu seu posto na antiga Londres. Madame Vastra, Strax e Jenny assumiram o título de “doutores” enquanto o verdadeiro só resmungava a cada ligação que recebia, frisando que “não fazia mais isso”. O Doutor parecia um bêbado maltrapilho no começo do episódio, mas não perdeu o jeito em causar efeitos em garotas curiosas que o encontram, sem contar o bom humor gerado com sua interação excelente com o Sontaran. As cenas que eles compartilharam juntos me fizeram rir o tempo todo.

O que foi o Doutor de Sherlock Holmes, gente? Moffat querendo matar os whovians do coração, só pode. O comportamento ranzinza do personagem apenas foi um emendo do espírito nada natalino do Senhor do Tempo, que ficou nítido quando ele tentou brincar de ser o investigador, cheio de cogitações sobre a vida do Dr. Simeon e seu assistente, sem acertar nenhuma das suas afirmações. Pelo menos a parte de falar rápido, sem fazer muito sentido, para atrair a atenção dos envolvidos, o Doutor conseguiu com louvor.

O episódio de Natal fez o prenúncio do último inverno da humanidade. Isso se refletiu na suposta tentativa de don’t give a shit do Doutor. A culpa que ele sente pela perda dos Pond é muito nítida do começo ao fim do episódio. Esse especial natalino foi um memorial à Amy e Rory, fato. Mesmo que a tentativa fosse apresentar a nova companion, a mera lembrança do casal conseguiu ofuscar em pontos-chave da trama. Não é à toa que Clara teve que cutucar a ferida do Doutor ao falar Pond, retornando-o às lembranças dos velhos hábitos, com direito a “bowties are cool”, jargão particular de Amy e dele.

doctor who - the snowmen4Pond foi a palavra que o colocou de volta no trajeto. Meu coração ficou pequeno ao ouvi-la ser pronunciada depois de tanto tempo. Foi um golpe baixo contra o pobre coração do Doutor (e o meu), mas não haveria outra forma dele retornar ao trabalho se não fosse por meio de um chute na traseira bem traiçoeiro. O impasse da trama se encontrava na lagoa, onde residia o plot principal que teria que ser resolvido. As lembranças de Nova York perambularam na mente do Doutor como fantasmas e, mesmo em ação, ele se recusa a atuar como salvador. Afinal, na mente dele, há muitas coisas a perder e poucas a ganhar sendo um Senhor do Tempo.

doctor who - the snowmen5Por mais que o episódio de Natal tenha sido perfeito e com foco nos Snowmen, o único objetivo da trama foi nos apresentar à Clara, a nova companion. O que eu achei dela? Por enquanto, uma pequena imitação de Amy Pond, só que mais sensual, e eu tive essa sensação desde sua primeira aparição no retorno da série. Pode ser até influência da minha bolha de amor pela ruiva, mas eu senti que ocorreu uma tentativa de recriá-la (e os whovians do Tumblr me mostraram que eu não estava maluca ao fazerem gifs relacionando as histórias das duas garotas).

Primeiro, Clara não tem papas na língua e desafia o Doutor com perguntas. Tudo bem, isso é normal para passar no teste do primeiro encontro com o Senhor do Tempo, mas achei forçado e muito Amelia Pond – apesar de que esse tom de desafio, para mim, sempre pertenceu à Donna e ninguém mais. Segundo, ela é o ponto que controla em determinado instante da trama os Snowmen, como aconteceu com Amy no seu primeiro confronto com os Weeping Angels. Terceiro, o fato dela morrer e voltar, não me fez fugir da lembrança de Rory Williams que foi condenado dezenas de vezes por amor à Amy.

doctor who - the snowmen6O que pode diferenciar Clara de Amy é o fato dela ser menos atirada, mas isso não deu muito certo, pois como Dalek ela mal controlava as cantadas. Como a primeira impressão é a que fica, Clara é pomposa e cheia de si, mas é bastante confiante e incisiva, o que é bom para a nova fase do Doutor. Contudo, confesso que sinto falta de companions mais velhas. Seja como atendente de bar, governanta ou Dalek, Clara é uma garota bem ácida e raciocina rápido. A atuação de Jenna foi muito boa, volto a confirmar isso desde sua primeira aparição, mas ela vai ter que ser muito mais que a garota souffle, ou a garota que sempre sobrevive no final, para me convencer de que ela é uma boa companion.

As companions servem para anunciar uma nova era de Doctor Who e Clara tem essa missão de levar a segunda parte da sétima temporada nas costas ao lado de Matt, que já é de casa e pode sambar na cara da sociedade por ser extremamente querido. Da mesma forma que Matt ainda lida com a sombra de David Tennant, Jenna vai ter que trabalhar muito para superar os Pond. Anseio muito por uma interação dela com River.

doctor who - the snowmen8Para ser bem honesta, senti falta de um elo que me faça ter simpatia pela companion logo de cara. Isso aconteceu com Martha, mas depois aprendi a respeitá-la. As companheiras da versão moderna da série tiveram um ponto de partida. Clara era um Dalek, mas só isso? Senti falta da pegada emocional que realmente faz uma companion pular na TARDIS sem olhar para trás. Não vi uma motivação forte para Clara fazer isso, a não ser a curiosidade. Parecia que o encontro do Doutor e dela estava combinado e eu torci o nariz para isso. Tudo bem, ela foi a causa do Senhor do Tempo voltar ao trabalho, mas só isso? Sem contar, que ela caiu na lábia dele muito fácil, isso sem saber quem de fato ele era. A cena de abertura me fez puxar os cabelos de indignação.

Ok! Ainda está cedo, mas as coisas com Clara começaram simples demais e se sustentarão a base do suspense, pois o Doutor vai atrás dela, não só para ter uma nova companheira, mas para entender como ela brinca de vivo ou morto. Dessa forma, dá para esperar algo muito bom e uma reviravolta extraordinária, como aconteceu com as antecessoras.

Não dá para julgar o desempenho dela com fervor e espero que a história de Clara seja tão grandiosa quanto das outras companions, pois, ao lado do Doutor, ela se tornou o coração da série. Eu também não dava nada para a história da Amy, mas foi algo que me deixou sem fôlego por dias. Clara é a nova representante dos desejos femininos de serem resgatadas de suas vidas chatas pela TARDIS e suspirar pelo alienígena enigmático, seja com jaqueta de couro, All-Star ou gravatas borboletas. Eu espero que Jenna honre o posto. Se Moffat a colocou lá é porque os motivos são muito bons, não é mesmo?

doctor who - the snowmen7Com direito a chuva de lágrimas, o episódio foi primoroso e com aquela sensação maravilhosa de redescoberta. Reencontramos o Doutor, revivemos aquela curiosidade de toda companion sobre o Senhor do Tempo e tivemos um revival ao rever a TARDIS, como se fosse a primeira vez. Foi um especial digno mesmo da data natalina, com efeitos especiais sensacionais que realmente anunciaram uma nova era para Doctor Who e o caminho de muitos meses para celebrar os 50 anos do seriado. Clara não foi a única novidade da noite, pois Moffat nos presenteou com uma nova abertura, a modernização da música tema e a deliciosa reforma na TARDIS. Mesmo com uma trama impecável, meu coração pertence à sexy lady em forma de caixa de polícia, que teve todo o direito de roubar o brilho de Clara.

É isso aí! Novo ano, nova companion, nova TARDIS, nova era em Doctor Who. Com certeza haverá muitas surpresas, revelações, sustos e risadas, itens que a série sabe render aos montes. Um beijo bem grande para Dr. Simeon, interpretado pelo caríssimo Richard E. Grant que não ficou tanto tempo em foco, mas foi um bom vilão que será lembrado pelo papel em mais um especial de Natal da série britânica.

Moffat provou mais uma vez que sabe fazer mágica e que vai voltar a brincar de morto ou vivo na segunda fase da sétima temporada da série. Até lá, GERONIMO!

8,5

Audiência: o retorno breve do Doutor trouxe para as telinhas da BBC America 1.434 milhões de telespectadores e atingiu o rating de 0.6.

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